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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sousveillance

Cada vez mais somos vigiados, gravados e analisados. Vivemos atrás de grades com câmeras constantemente seguindo nossos passos, registrando nossas ações em fotos seqüenciais com ou sem áudio.

Somos vigiados por nossa própria sociedade baseada no medo. Medo de que o outro nos atinja, medo de que o outro deseje o que é nosso, medo de que o outro seja diferente. Somos fruto de nossas próprias decisões e ações, de nosso próprio medo, e assim nos enclausuramos e nos afastamos, cada vez mais.

O fato de um segurança do Shopping Leblon vir reclamar comigo que eu estava filmando o shopping (mesmo sem o estar) me revoltou. Eu sou filmado pelas câmeras de segurança, sou tratado como uma potencial ameaça, não poderia eu mesmo me proteger de outras potenciais ameaças, gravando seus passos e suas ações? Por que aceitamos ser filmados quando podemos processar o uso de nossa imagem, quando podemos pedir e exigir não termos nossas faces gravadas em filme?

Lembrei de uma aula de Design, onde a professora falou de Steve Mann. Em um de seus projetos, sua crítica (e estudo) à vigilância, entrava em lojas com uma filmadora acoplada à roupa (no conceito do wearable computing). Essa é a Inverse Surveillance.

Isso que era um estudo é visto hoje como uma prática comum. Em uma era de Web 2.0, de enciclopédias colaborativas e por uma computação colaborativa, raro é não ver algum vídeo amador ser divulgado em sites como Youtube. É mais fácil denunciar e mostrar com as ferramentas de hoje, é fácil entender porque os que dizem ser autoridade temem as câmeras. Para mais exemplos e uma alfinetada na mente de quem ainda não percebeu a que ponto podemos chegar, sugiro a leitura de 1984 (que me causou calafrios) e ver The Final Cut (obrigado Guilherme pela aula de Fotografia =) ) .

E no final das contas, era isso que eu estava "filmando". Sendo um vídeo uma seqüência de fotos, no final das contas, o segurança não estava errado em dizer que eu estava "filmando" não é? Apenas que foi apenas uma imagem, estática. Uma foto.

Atualização:
http://www.popularmechanics.com/technology/how-to/computer-security/taking-photos-in-public-places-is-not-a-crime?click=pm_latest

E aqui no Brasil, alguém sabe o que a lei diz sobre isso?

6 comentários:

  1. Realmente, não entendi a atitude do segurança. Até porque não aparecia ninguém e nenhuma loja na foto, não havia nenhuma celebridade por lá e nossa país não costuma ter problemas com terrorismo.

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  2. O_O nossa....virei fã sua Bruno...sério..pensamentos tão profundos ressurgiram de maneira admirável por causa de uma situação desagradável...me pergunto se algum dia vc tiver a oportunidade de refletir com o segurança sobre isso...acho que ele mudaria a forma de penar..
    ou não né?!
    mahuahuuahha sei lá
    só sei que é a sim que funcionam as coisas do mundo u_u ser filmado e nunca filmar @_@

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  3. Ótimo texto, cara!

    A historinha do "vigiar e punir" é muito bonita quando o cidadão comum não quer fazer as vezes de vigia e carrasco.

    Ironicamente, tudo isso dentro de um shopping center, vitrine-mor da nossa era. Consumo, espetáculo e repressão, tudo em um só lugar.

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  4. Ha, primeiro comentário!!!
    Mas eu jah tinha vindo aki antes, só que sempre tinha dificuldade pra achar o site no google.
    Ótimo texto, a verdade é que nem notamos do quanto somos observados durante o dia, se pararmos para pensar, enlouquecemos.
    Como tah a vida? Estudando muito?
    abs!

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  5. Esquentando a discussão, saiu no Slashdot um comentário sobre câmeras e oficiais de segurança que as temem.

    http://yro.slashdot.org/story/10/06/03/1548225/Police-Officers-Seek-Right-Not-To-Be-Recorded?from=rss&utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+Slashdot%2Fslashdot+%28Slashdot%29&utm_content=Google+Reader

    Era pra ter colocado outro link nesse post, do Rizoma, sobre a enchente que teve no Rio algumas semanas atrás. http://www.youtube.com/watch?v=PeduZpj_Zsc

    Reparem como os policiais reagem quando a câmera é apontada para eles.

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  6. E jogando mais lenha na fogueira, descobri hoje esse blog: http://carlosmiller.com/2010/07/01/we-were-permanantly-banned-from-the-miami-dade-metrorail-for-taking-photos/

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